sábado, 31 de outubro de 2009

Cora Coralina – Doceira e Poeta

Livro de receitas que será lançado hoje em Goiás revela segredos da doceira Cora Coralina, tirados de um caderno guardado por sua filha há mais de 70 anos

Uma capa esverdeada, mas já bastante marcada pelo tempo e pelo uso constante no passado, em meio a tachos de cobre, a aromas que vinham da cozinha de uma velha casa da ponte. A escritora Cora Coralina escreveu, com caligrafia caprichada, alguns de seus segredos de doceira num modesto caderno escolar, com o brasão da República e uma ilustração de um palácio na capa e o Hino à Bandeira Nacional, com letra de Olavo Bilac e música de Francisco Braga, na contracapa.

Este é o único caderno em que a poeta registrou receitas de doces, bolos, licores que fizeram sua fama também na culinária. Esta pequena joia, guardada a sete chaves por décadas por Vicência Brêtas Tahan, única filha viva da escritora, vem a público no momento das comemorações dos 120 anos da autora. O material integra a exposição Cora Coralina – Coração do Brasil, em cartaz no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, como uma das peças mais raras da mostra em homenagem à poetisa.

Durante dois anos, Vicência se envolveu na publicação de um livro com as receitas inéditas, que Cora só fazia para o pessoal de casa e não para vender aos turistas, atividade que desempenhou durante muitos anos e que a ajudou a comprar o imóvel onde morou em Goiás e que se tornou um símbolo de sua poesia. A obra Cora Coralina – Doceira e Poeta, publicada pela Editora Global, será lançada hoje, às 17h30, no quintal do Museu Casa de Cora, em Goiás, dentro da programação do festival gastronômico da cidade.

No evento, haverá recital e oficina de pastelinho com Rita de Cássia Barros. Antes deste lançamento no local onde as receitas saíram do papel e foram para os tachos de cobre da escritora, o livro havia sido apresentado em São Paulo, na abertura da exposição comemorativa, que ficará em cartaz até 13 de dezembro.

Detalhes na produção
O livro ganhou uma edição atenta e cheia de detalhes úteis aos seus leitores. Os quitutes, doces e licores de cada uma das receitas que constam do volume foram especialmente fotografados, em produções caprichadas, com belas louças e cenários especiais. Com produção de Airton Pacheco, as imagens dos pratos são de Cristiano Lopes. A cidade de Goiás, com seus pontos mais conhecidos vistos de ângulos incomuns, também está retratada no livro. Clicar a antiga Vila Boa foi a incumbência do fotógrafo Emiliano Boccato.

Algumas das peças da produção do cenário em que as receitas são apresentadas nas imagens foram cedidas por renomadas casas de utensílios e antiquários de São Paulo. Outras foram emprestadas por Vicência Brêtas (leia entrevista nesta página).

O projeto prima por aliar os dois grandes talentos de Cora Coralina: a poesia e os doces. No volume, há versos e até mesmo poemas completos da escritora. Eles reafirmam a identificação do trabalho de Cora, na linguagem e em seus famosos tachos de cobre, com a terra em que nasceu e para a qual retornou depois de ficar viúva. Sua obra, tão impregnada de terra e sentimentos de pertencimento à antiga capital goiana, pode ser melhor compreendida com este livro, já que seu imaginário está presente na edição de uma forma mais intensa do que em volumes de poesia.

A imagem do velho mercado da cidade ao lado dos versos que contam sua rotina revelam o olhar lírico da poeta sobre o trivial, sobre o que fez parte do cotidiano da cidade. Fotos do acervo da família auxiliam nesta tarefa, assim como o destaque a pequenos detalhes de seu universo, como a bica d’água que passa por baixo da casa e fotos do quintal florido de Cora.

Livro:
Cora Coralina – Doceira e Poeta
Organização: Vicência Brêtas Tahan
Páginas: 144
Preço: 119 reais
Editora: Global

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